5 perguntas pra vocĂȘ entender a Economia Circular
- Amanda Kloh
- 23 de jul. de 2024
- 5 min de leitura
O atual sistema produtivo, linear, nĂŁo Ă© sustentĂĄvel na maioria das situaçÔes: gera grande acĂșmulo de resĂduos que nĂŁo recebem novos usos e induz a exploração excessiva de recursos, o que pode levar ao esgotamento de matĂ©rias-primas.

Ă possĂvel mudar?
Sim. Essa é a proposta da economia circular. Pensar modelos econÎmicos nos quais os materiais não biodegradåveis possam retornar ao ciclo produtivo. Tome por exemplo uma måquina de lavar quebrada. E se ao invés de ser descartada, o equipamento fosse enviado de volta à fåbrica, desmontado, otimizado (ou consertado) e trazido de volta? O ciclo, que habitualmente seria encerrado com o descarte do produto, é ressignificado e os produtos ganham um novo ciclo.
2. O que Ă© economia circular?
à uma nova forma de olhar as relaçÔes entre o mercado, clientes, recursos naturais e a sociedade.
Na economia clĂĄssica, ou linear, produzimos, consumimos e eliminamos, enquanto as indĂșstrias extraem, transformam e descartam.

O modelo atual, dependente de grandes quantidades de materiais de baixo custo e fĂĄcil acesso, alĂ©m de energia, estĂĄ atingindo seus limites fĂsicos.
Uma economia circular propĂ”e novos fluxos circulares de redução, reuso e reciclagem em substituição ao conceito de fim de vida. SĂŁo trĂȘs os princĂpios que o regem, segundo a Ellen MacArthur Foundation:
- Preservar e aumentar o capital natural
Este princĂpio começa com a alteração na forma de pensar produtos e serviços. Reduz-se os gastos com a extração de recursos, aproveitando-os ao mĂĄximo e da melhor forma possĂvel. Outra maneira de aumentar e preservar o capital natural Ă© com o estĂmulo Ă regeneração, como, por exemplo, a do solo.
- Otimizar a produção de recursos
Nada se perde, tudo se transforma: a produção Ă© projetada para a remanufatura, a reforma e a reciclagem, dandose nova vida Ă quilo que nĂŁo serviria a mais ninguĂ©m e garantindo que produtos e recursos circulem de forma a serem sempre Ășteis.
- Fomentar a eficĂĄcia dos processos Avaliar os processos e destacar e reproduzir bons resultados, de forma a nĂŁo ter grandes despesas e prejuĂzos ao meio ambiente, e manter a lucratividade. Pauta-se na boa gestĂŁo de recursos como solo, ar e ĂĄgua, extraindo os riscos de poluição ambiental e sonora, por exemplo, alĂ©m de intensificar açÔes para manter o cĂrculo contĂnuo.
3. Como funciona?
A implantação de uma economia circular baseia-se em preservar e valorizar o capital natural e minimizar o desperdĂcio. O conceito atua nos diversos elos da cadeia, desde a concepção, atĂ© distribuição e reentrada no ciclo.

Concepção e Design â Com o design projetado para vĂĄrios ciclos de vida, economicamente viĂĄveis e ecologicamente eficientes, Ă© possĂvel desenvolver produtos e serviços mais duradouros e utilizando menos recursos.
Produção â Processos mais limpos, promoção de eficiĂȘncia energĂ©tica e de materiais e identificação de novas utilizaçÔes para subprodutos.
Distribuição â Organizar o serviço de logĂstica para partilha de redes de distribuição, escolhas mais sustentĂĄveis nos modos de transporte, alĂ©m de preocupação com a utilização de materiais reciclĂĄveis e redução de sobre-embalamento.
Utilização â Melhoria da eficiĂȘncia energĂ©tica, maximização da vida Ăștil do produto e otimização da reparação e reutilização. Reentrada no ciclo - Dinamização de redes de retorno, reuso, remanufatura ou reciclagem. Foco na reutilização criativa (upcycling), processo de reconversĂŁo de resĂduos em novos materiais ou produtos de maior valor acrescentado, ou no processo de reconversĂŁo de resĂduos em novos materiais ou produtos de menor qualidade/funcionalidade reduzida (downcycling).
4. E na prĂĄtica?
A grande maioria das pessoas jå estå familiarizada com a pråtica da economia circular, mesmo que não conheça a teoria.
As atividades sĂŁo pensadas objetivando minimizar perdas sistĂȘmicas e processos externos negativos, alĂ©m de gerar valor positivo para as empresas, principalmente para os recursos naturais.
Reciclagem â Um exemplo prĂĄtico e bem-sucedido Ă© a reciclagem de latas de alumĂnio no Brasil, que tem aproveitamento acima de 90%. A reciclagem reduz o custo de extração e produção do material, alĂ©m de praticamente eliminar a presença desses resĂduos em rios e aterros sanitĂĄrios.
Renovação / Remanufatura â Em alguns paĂses, empresas de computação e telefonia recolhem equipamentos antigos ou com defeito de fĂĄbrica, fazem o conserto ou atualização para revendĂȘ-los com um preço menor e a mesma garantia de um novo.
Reutilização â O despejo de esgoto em rios Ă© um problema ambiental e de saĂșde pĂșblica. Atualmente, um tratamento do rejeito com ultramembranas de filtração permite que o lĂquido seja utilizado em processos industriais com qualidade superior as coletadas em rios, sendo recirculada vĂĄrias vezes antes de ser retratada e devolvida aos corpos de ĂĄgua. O resĂduo sĂłlido remanescente ainda pode ser utilizado como adubo ou na geração de biogĂĄs.
Simbiose â Na publicação Guia de Economia Circular de Ăgua, do CEBDS, Ă© apresentado um caso de um polo industrial na Dinamarca, no qual o resĂduo de uma empresa Ă© utilizado como matĂ©ria prima por outra. A mesma lĂłgica Ă© aplicada em jazidas de rochas ornamentais, cujo resĂduo pode ser utilizado para produção de argamassa.
Prolongar â Ao invĂ©s de pagar pelo produto, o consumidor assina um serviço no qual a empresa se encarrega da manutenção dos serviços e atualização e troca do equipamento quando necessĂĄrios. Essa lĂłgica substituiria a produção de produtos com ciclo de vida curtos, que trazem maior lucro Ă s empresas que vendem produto ao invĂ©s de serviços.
5. Aplicação em larga escala?
Economia circular nĂŁo se trata de um conceito com restriçÔes de aplicação, podendo ser replicado em todos os setores. O setor de eletroeletrĂŽnicos, por exemplo, jĂĄ tem avançado bastante na recuperação, reutilização de partes e recondicionamento de peças, transformando resĂduos de baixo valor agregado em novos produtos.
Entretanto, alguns obstĂĄculos impedem que a economia circular seja aplicada em larga escala:
- Falta de legislação e de boas polĂticas pĂșblicas;
- Necessidade de mais incentivos tributĂĄrios;
- Capacitação para mudança de mentalidade;
- Avaliação de potenciais de ganhos financeiros e oportunidades de negócio;
- Maior conscientização por investidores e consumidores;
- PolĂticas e iniciativas melhores de pĂłs consumo.
A economia circular deve movimentar US$ 1 trilhĂŁo na economia mundial nos prĂłximos 10 anos, alĂ©m de criar mais empregos e tornar a economia mais resiliente. TrĂȘs bilhĂ”es de consumidores de classe mĂ©dia sĂŁo esperados para entrar no mercado global em 2030, impulsionando a demanda por produtos e serviços compartilhados. O relatĂłrio âPerspectivas Sociais e de Emprego no Mundo 2018â, da Organização Internacional do Trabalho, estima que a indĂșstria de reĂșso tem potencial de gerar seis milhĂ”es de empregos atĂ© 2030.
No Brasil, foi implantada, em 2010, a PolĂtica Nacional de ResĂduos SĂłlidos (PNRS), que visa garantir a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a operação reversa e o acordo setorial.
Ă responsabilidade de todos, agentes do ciclo produtivo, consumidores e poder pĂșblico, assegurar que os produtos sejam reintegrados, minimizando o volume de resĂduos sĂłlidos.